Desde Vouzela para o WorldTour, o TopCycling conta o caso de sucesso da Carbon Team, uma empresa portuguesa de quadros em carbono que exporta para todo o mundo.
A pandemia levou as marcas de bicicletas e componentes a reconsiderarem a dependência face aos centros de produção localizados no mercado asiático. O panorama económico atual acentuou essa tendência e a empresa portuguesa Carbon Team veio posicionar-se como alternativa.
O Topcycling esteve à conversa com Emre Ozgunes, diretor-geral da Carbon Team. A empresa de fabrico de quadros em carbono sediada em Vouzela tem tido um crescimento notável, apesar de ainda não ser conhecida pela maioria dos portugueses amantes das duas rodas.

Antigamente, os quadros das bicicletas eram todos soldados à mão, principalmente na Ásia. Em Portugal a Triangle’s (consorcio Rodi-Miranda-Ciclo) foi a primeira empresa no mundo a produzir quadros de bicicletas em alumínio de forma totalmente robotizada, mais tarde a CarbonTeam (consorcio Rodi-Miranda-Ciclo-ArtCollection-Bike Ahead) passou a fazer quadros em carbono.
“A Carbon Team tem uma história um bocadinho grande, mas posso contar rapidamente. A Carbon Team tem três sócios portugueses: a Miranda & Irmão que faz os crenques, a Rodi que faz os aros e as rodas e a Ciclo Fapril que é uma empresa de fabrico de suportes metálicos. Então estas três empresas juntaram-se para fazer quadros em alumínio. Posteriormente, tivemos contacto com uma pessoa em Taiwan da Art Collection e mais tarde juntamo-nos à alemã Bike Aid Composites.”
Emre Ozgunes, diretor-geral da Carbon Team.
Emre Ozgunes realça o conhecimento e qualidade da mão da obra em nacional: “Portugal tem um grande know how sobre as duas rodas. Em Águeda já existia uma grande indústria de bicicletas e motorizadas antes de Portugal entrar para a União Europeia. Depois de entrar para a União Europeia todos os componentes e acessórios começaram a vir diretamente da Ásia e todas estas empresas foram à falência, mas ficou o conhecimento nessas empresas, que insistiram e conseguiram continuar a fornecer alguns produtos para a Europa.”

A Carbon Team no radar mundial da indústria
Recentemente, a União Europeia colocou uma taxa de cerca de 50 por cento sobre os produtos vindos da Ásia, principalmente de países como a China, Taiwan ou Vietname. Isso veio equilibrar um pouco a balança, houve mais empresas a chegar-se à frente e a investir cada vez mais.
A Europa e os Estados Unidos sempre procuraram onde podiam estabelecer as suas fábricas, de forma a que a mão de obra fosse mais barata. Mas hoje em dia o que acontece é que a mão de obra nesses países da Ásia, por ser mais valorizada e mais especializada, já é mais cara do que na Europa, em algumas situações.
“O consumidor final tem uma bicicleta topo de gama e esquece-se que vem dessa zona do mundo. Com o consumidor a começar a aperceber-se disso, a mão de obra nessa parte da Ásia já não é tão barata. Este é um trabalho bastante intensivo, requer muito das pessoas para ter este ofício. Daí o custo de vida ter encarecido nessa zona e nalguns desses países, um trabalhador já ganha mais lá do que, por exemplo, em Portugal.”
Emre Ozgunes, diretor-geral da Carbon Team.

Produto topo de gama é enviado para fora
Portugal já começou a atrair maior investimento de empresas estrangeiras. Tem sido um ponto de entrada para a Europa. Há a concorrência da Europa de Leste, mas tendo em conta a situação nessa zona do hemisfério temos tudo para sair privilegiados.
Embora Portugal seja o maior país europeu na produção de bicicletas, não há nenhuma marca totalmente portuguesa.

“Isso incomoda-me um bocadinho. Estamos a trabalhar para os outros em vez de beneficiarmos nós com isso. Produzimos a um nível muito superior ao que se pode encontrar no mercado devido ao nosso processo. Fazemos os quadros numa peça inteira através de um molde, enquanto na Ásia fazem peça a peça e através de colagens. Isso permite-nos ter um quadro muito mais leve e mais rígido. Outra vantagem é que a peça após estar terminada não necessita ser pintada, basta aplicar o verniz, o que também poupa algumas gramas de peso.”
Emre Ozgunes, diretor-geral da Carbon Team.
O produto topo de gama é enviado para fora. Emre Ozgunes acredita que se devia dar mais destaque à marca Portugal: “Para uma ou duas marcas aqui em Portugal até vendemos 20 ou 30 quadros, mas o que é que acontece depois? As próprias marcas queixam-se do preço do quadro porque se baseiam naquilo que é feito na Ásia. Se houvesse uma marca que trabalhasse, comprasse aqui os quadros e anunciasse que eles são feitos em Portugal, várias pessoas iriam querer comprar as bicicletas dessa marca só por serem produzidas aqui. Estas são as minhas ideias, mas nem todos pensam da mesma forma que eu.”
Quadros postos à prova no Tour de France
Sobre o futuro, tudo parece estar bem delineado. A Carbon Team trabalha com 12 clientes de marcas para os quais produzem: quadros de estrada, um quadro mais aerodinâmico, suspensão total, e-bike suspensão total, outro quadro mais aerodinâmico (ou seja, de outra marca), forquetas, espigões, aros.
O futuro próximo da Carbon Team passa por trabalhar para outras marcas, embora já tenha neste momento quadros postos à prova no Tour de France.

“Posso dizer que das marcas com quem trabalhamos, cinco delas têm bicicletas a correr na Volta a França. Mas a única marca que posso anunciar é a austríaca Nox, à qual fazemos o quadro da e-bike suspensão total. Temos clientes em Itália, Áustria, Bélgica, Alemanha, Espanha e República Checa.”
Emre Ozgunes, diretor-geral da Carbon Team.
O futuro e o crescimento
Os próximos passos passam por melhorar o panorama atual da fábrica, das instalações e dos trabalhadores. Ao dia de hoje a Carbon Team está a utilizar apenas 6/7 por cento da sua capacidade máxima de produção, o que se reflete em cerca de oito mil unidades por ano. O primeiro ano de full running year será 2024 pois as marcas lançam os novos modelos em setembro e em agosto e só depois em janeiro é que começam a montar bicicletas.
“O nosso primeiro ano completo vai ser em 2024. Eu penso que em 2026 já vamos conseguir utilizar a primeira fase de capacidade de produção, que é de 55 mil quadros. Depois temos que criar uma área para pintar os quadros. Os nossos clientes querem o produto já pintado e com decalques. Vamos ter um investimento à volta de 4 milhões de euros nos próximos anos. A nível de pessoal, quando fizemos o primeiro quadro éramos três pessoas, agora já somos 50 e até final deste ano já vamos ter entre 80 e 100 pessoas.”

Já em fim de conversa e em tom descontraído, Emre Ozgunes, comenta algo curioso face à perceção do cliente nacional:
“Às vezes até tenho medo de vender o nosso produto em Portugal, porque as próprias pessoas, pelos quadros serem produzidos aqui, pensam que já não são bons o suficiente. Gostam mais dos produtos chineses.”
A realidade é que Carbon Team reúne todas as condições, não só para crescer, mas também para trabalhar com as grandes marcas de bicicletas da atualidade (se é que já não o fazem).
São atualmente a maior empresa de fabrico de quadros em carbono na Europa e quem sabe se em dois ou três anos não estaremos a falar da maior produtora de quadros em carbono no mundo.
O que é português é bom e recomenda-se.

Por: Tomás Martins
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