É a clássica dos sprinters, mas desde 2016 não há sprint massivo pelo primeiro Monumento da temporada. A Milão-Sanremo tem sido terreno de caça para os oportunistas – como Matej Mohoric e Jasper Stuyven – e tornou-se objeto da devoção dos gigantes do pelotão como Vincenzo Nibali, Julian Alaphilippe e Wout Van Aert.
As duas últimas edições estão no top cinco das mais rápidas de sempre, o que nos leva a perguntar: está a Milão-Sanremo demasiado veloz para os puros sprinters?
Caleb Ewan é um dos puros sprinters que acredita na tradição e sonha com vencer na Via Roma o Monumento que lhe falta no palmarés.
“Já fiz duas vezes 2º por isso sei que é possível.
Na última vez o Van Aert também lá estava e eu senti-me confortável no Poggio. Tem-se tornado uma corrida cada vez menos para sprinters, mas subo suficientemente bem as subidas curtas. É o único Monumento que acredito poder vencer, é por essa razão que quero tanto ganhá-la”,
diz o australiano em entrevista concedida ao TopCycling desde a Austrália.
Itália tem sorrido ao sprinter de Sidney. Etapas no Giro, no Tirreno-Adriático, pódios nas mais históricas clássicas como Milão-Sanremo e Milão-Turim. No entanto, o facto de a Lotto-Dstny ter perdido a licença WorldTour leva a que em 2023 o Pocket Rocket não corra nem Tirreno- Adriático nem Giro, já que a equipa abdicou de ir à primeira grande Volta da temporada.
A situação não afeta os planos do sprinter.
“Quero preparar bem Sanremo treinando. Em competição perdes o controlo e no caso do Tirreno está demasiado próximo de Sanremo em caso de ter que modificar algo. Quero preparar o bloco de clássicas. O Giro é demasiado duro e não há muitas oportunidades para sprintar. Na primeira parte da época é a Sanremo que quero ganhar. Por exemplo, nos Nacionais fui a fundo num percurso que não me favorecia porque ir a fundo agora vai-me ajudar dentro de uns meses. Sei que preciso de dias duros. Depois de passar a Sanremo e as clássicas mudarei o foco para o Tour de France”,
adianta Caleb Ewan.
Após três anos sem poder entrar na Austrália, devido à pandemia, Caleb Ewan aproveita para matar saudades. Entretanto, foi pai de um rapaz que a maioria da família só agora pode conhecer. São os sacrifícios que os australianos têm que fazer quando querem ser ciclistas ao mais alto nível.
Coabitar com Arnaud De Lie não é problema
Há quem opine que ter múltiplos líderes para uma prova é prejudicial. Não Caleb Ewan, que na Milão Sanremo será o guia de luxo de um De Lie estreante na prova fetiche para o colega australiano – dois pódios em cinco presenças.
“Não é a primeira vez que tenho que partilhar a liderança, já corremos juntos em 2022. Sou um colega honesto, ele é um rapaz honesto e se um de nós não se sentir bem sacrificamo-nos um pelo outro. Gosto dele porque é entusiasta e tira- me certa pressão quando estamos juntos”,
explica o aussie.
O TopCycling esteve na apresentação da Lotto-Dstny, em Dénia, numa grande festa digna de uma estrutura WorldTour. Arnaud De Lie foi a estrela. Nove vitórias no primeiro ano como profissional ajudaram a queimar etapas dentro da histórica formação da Flandres, mesmo tendo em conta que há corredores como Thomas De Gendt e Victor Campenaerts que também pesam na estrutura.
Caleb Ewan liderou nas últimas quatro épocas, mas vem de um ano abaixo do esperado:
“A primeira parte [de 2022] não correu bem pelo Covid, depois sofri um vírus estomacal e perdi as clássicas, onde esperava marcar muitos pontos para a equipa. Isso ditou o tom da época. Depois o Giro e o Tour foram dececionantes.”
Sobre o colega De Lie – que fez a etapa sub-23 na Lotto – Ewan é honesto:
“Nunca o tinha visto correr. Tinham-me dito que era muito bom e quando o vi nas primeiras provas que ganhou deu para ver que era bom não só a sprintar; é forte, inteligente e sabia que ia continuar a fazer uma boa época. Julgo que pode ganhar num puro sprint e nas clássicas, pode fazer muitas coisas.”
A conversa com Caleb Ewan decorre por videoconferência. Responde a tudo, toma o seu tempo e pensa o que diz. São 28 anos e 59 vitórias. O menino que cresceu na Orica – e logo na primeira época no WorldTour ganhou na Vuelta e fechou com 11 triunfos – tornou-se um atleta de referência.
Para a nova época há alterações estruturais no comboio que o lança. Após seis anos com Arnaud Démare, Jacopo Guarnieri saiu da FDJ para vir lançar Caleb Ewan, que viu Roger Kluge deixar a equipa.
O Pocket Rocket confia em subir o nível:
“A FDJ tem o comboio de sprint mais organizado. Comparando com o meu, que tenho um comboio com muitos cavalos de potência, eles têm um bom timing.” O que pode trazer Guarnieri? “É bom a organizar o comboio e nós precisávamos de maior organização. Temos um dos comboios mais fortes em termos de potência, mas por vezes não sabemos organizar essa potência, por isso espero que ele seja o homem que diga ao pessoal o que fazer, que nos organize, porque com isso teremos dos melhores comboios.”
Para já o ano arrancou com vitória na Schwalbe Classic, em Adelaide, uma corrida que serve de aquecimento para o Tour Down Under. Ewan superou Jordi Meeus (Bora) e Kaden Groves (Alpecin) e está em forma para a grande corrida australiana onde soma nove vitórias.
Por: Gonçalo Moreira
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