Depois da decisão controversa de querer penalizar a posição “super tuck” ou “aero” dos ciclistas, agora a UCI indicou que também quer proibir a posição de contrarrelógio durante as etapas de linha nas bicicletas de estrada (antebraços no guiador).

Mesmo tentando ter bom senso e uma visão de ambas as partes, perdoem-me a abordagem mais pessoal, mas ultimamente isto começa a parecer dia 1 de Abril (curiosamente a data em que vão entrar em vigor as novas regras) cada vez que se sabe de uma nova medida pensada pela UCI.

A posição de “contrarrelógio” é utilizada muito frequentemente (muito mais que a posição sentado no quadro a descer, conhecida por “super-tuck”), é uma posição praticada por muitos ciclistas em fugas, em terreno plano e é feita por eles tão naturalmente como pedalar.

O que procura a UCI com esta medida?
Estas medias não surgem “só porque sim”, é certamente para melhorar a segurança do ciclista. Vamos tentar perceber.
É porque o ciclista tira as mãos das manetes de travão (colocando em casa a segurança)? Mas e então a outra medida de proibir a posição de “sentado no quadro” é porquê? Aí o ciclista tem as mãos nas manetes.

Será porque o ciclista não está em contacto com todos os pontos de contacto da bicicleta (guiador, pedais e selim)? Mas então, quando os ciclistas se levantam do selim a subir ou a sprintar?

Se a primeira decisão já era polémica esta promete dar muito que falar, parece que a UCI está a levar mais longe a especificidade do regulamento para tirar margem de interpretação aos próprios comissários, mas acredito que haja uma “revolta” por parte dos ciclistas profissionais em relação a isto (através das entidades que os representam), para que a UCI recue nestas medidas.

A notícia da proibição do “super tuck” (posição sentado no quadro em descida) foi recebida entre os ciclistas profissionais de todo o mundo com surpresa, perplexidade e muita crítica, dizendo muitos deles que há problemas mais prementes de ser resolvidos, em vez da posição do ciclista na bicicleta.
Michal Kwiatkowski e outros manifestaram desde logo o seu desagrado. No caso do polaco da INEOS, alertou desde logo para uma stuação de óleo na estrada que aparentemente não foi detetada e comunicada via rádio às equipas.
Chris Froome escolheu a ironia nas redes sociais para manifestar a sua opinião acerca destas medidas, perguntando se vão penalizar o olhar para baixo (avanço do guiador) e os cotovelos para fora (típico no estilo de Froome).
Ao que parece a regra sobre a posição correta na bicicleta já existia nos livros, o tipo de penalização por não a cumprir é que muda.
A verdade é que estas medidas são para avançar no decorrer deste ano, veremos os desenvolvimentos “de próximos capítulos” entre UCI e ciclistas profissionais, mas está implementado.
Além destas medidas da posição do ciclista na bicicleta, a UCI prepara também outras em relação à segurança na prova, como podes ver neste nosso artigo.
A visão do outro lado (de quem regulamenta)
Entrei em contacto com Isabel Fernandes, ex-comissária de ciclismo portuguesa, atualmente consultora da Federação Portuguesa de Ciclismo, no sentido de tentar perceber o que pode levar a UCI a querer tomar estas medidas.
Isabel Fernandes explicou que qualquer medida tomada pela UCI é sempre feita com base em situações que já aconteceram, e que eventualmente ( e sublinho eventualmente porque Isabel Fernandes não falou em nome da UCI) chegaram à conclusão de que este posicionamento do ciclista, o coloca a ele e aos outros em perigo (por situações visionadas em provas), na medida em que pode diminuir a sua capacidade de reação perante uma irregularidade na estrada ou obstáculo imprevisto.
Disse também que a UCI quando adota novos regulamentos é para todas as categorias, e nem todos os ciclistas (de cadetes a veteranos) têm a destreza e capacidade de fazer este tipo de posições na bicicleta, embora alguns possam tentar, colocando em risco tanto a eles como os outros. Esta pode ser outra das razões deste tipo de medidas.
Relembrou que, há muitos anos atrás quando a UCI implementou o capacete os ciclistas achavam absurdo, que chegaram a fazer greve em algumas provas, mas que hoje em dia está mais do que provado que foi uma opção correta.
A minha opinião
Por um lado é compreensível, mas por outro há tantas situações e gestos naturais em competição que podem colocar o ciclista em perigo, que se formos abordar o problema por aí daqui por uns tempos o ciclismo é pura capacidade física (são “robots” em cima das bicicletas), desaparecendo quase a capacidade técnica de cada ciclista.
Beber água, comer, vestir um abrigo, receber um abastecimento apeado ou da viatura da equipa, são gestos que os ciclistas profissionais fazem com naturalidade e nos quais tiram as mãos do guiador, fazem parte deste desporto e não há como os evitar. Porquê tentar mudar os outros?

O ciclismo de competição de estrada é praticado por profissionais experientes (nível profissional), é uma competição que envolve perigo, é praticado na rua e em estradas com irregularidades, num ambiente “não controlado” (ao contrário de uma pista, onde se sabe como está o piso, como estão as curvas, não surgem elementos exteriores inesperados, etc.), o perigo é inerente à competição em si.
Permitam-me ironizar um pouco sobre o assunto também. Alguém que avise Peter Sagan, Froome e companhia de que no futuro poderá ter que utilizar “camel bag” para beber água durante as etapas, pois é perigoso tirar a mão do guiador para beber ou comer em cima da bicicleta.

Por: Luís Beltrão
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