Análise a algumas das novas medidas da UCI – posição dos ciclistas na bicicleta

Análise a algumas das novas medidas da UCI – posição dos ciclistas na bicicleta

Depois da decisão controversa de querer penalizar a posição “super tuck” ou “aero” dos ciclistas, agora a UCI indicou que também quer proibir a posição de contrarrelógio durante as etapas de linha nas bicicletas de estrada (antebraços no guiador).

UCI quer implementar sanção para os ciclistas que pedalarem assim em corrida.

Mesmo tentando ter bom senso e uma visão de ambas as partes, perdoem-me a abordagem mais pessoal, mas ultimamente isto começa a parecer dia 1 de Abril (curiosamente a data em que vão entrar em vigor as novas regras) cada vez que se sabe de uma nova medida pensada pela UCI.

Tim Wellens, podes “viver o teu sonho”, mas com as mãos no guiador.

A posição de “contrarrelógio” é utilizada muito frequentemente (muito mais que a posição sentado no quadro a descer, conhecida por “super-tuck”), é uma posição praticada por muitos ciclistas em fugas, em terreno plano e é feita por eles tão naturalmente como pedalar.

Implementar este tipo de medidas pode tirar a liberdade e estilo de correr de cada ciclista.

O que procura a UCI com esta medida?

Estas medias não surgem “só porque sim”, é certamente para melhorar a segurança do ciclista. Vamos tentar perceber.

É porque o ciclista tira as mãos das manetes de travão (colocando em casa a segurança)? Mas e então a outra medida de proibir a posição de “sentado no quadro” é porquê? Aí o ciclista tem as mãos nas manetes.

Será porque o ciclista não está em contacto com todos os pontos de contacto da bicicleta (guiador, pedais e selim)? Mas então, quando os ciclistas se levantam do selim a subir ou a sprintar?

E como pensam fazer nas chegadas ao sprint e nos festejos com as mãos fora do guiador?

Se a primeira decisão já era polémica esta promete dar muito que falar, parece que a UCI está a levar mais longe a especificidade do regulamento para tirar margem de interpretação aos próprios comissários, mas acredito que haja uma “revolta” por parte dos ciclistas profissionais em relação a isto (através das entidades que os representam), para que a UCI recue nestas medidas.

O momento dos abastecimentos durante as etapas é delicado e perigoso mas faz parte da corrida, também vão mudar este procedimento?

A notícia da proibição do “super tuck” (posição sentado no quadro em descida) foi recebida entre os ciclistas profissionais de todo o mundo com surpresa, perplexidade e muita crítica, dizendo muitos deles que há problemas mais prementes de ser resolvidos, em vez da posição do ciclista na bicicleta.

Michal Kwiatkowski e outros manifestaram desde logo o seu desagrado. No caso do polaco da INEOS, alertou desde logo para uma stuação de óleo na estrada que aparentemente não foi detetada e comunicada via rádio às equipas.

Chris Froome escolheu a ironia nas redes sociais para manifestar a sua opinião acerca destas medidas, perguntando se vão penalizar o olhar para baixo (avanço do guiador) e os cotovelos para fora (típico no estilo de Froome).

Ao que parece a regra sobre a posição correta na bicicleta já existia nos livros, o tipo de penalização por não a cumprir é que muda.

A verdade é que estas medidas são para avançar no decorrer deste ano, veremos os desenvolvimentos “de próximos capítulos” entre UCI e ciclistas profissionais, mas está implementado.

Além destas medidas da posição do ciclista na bicicleta, a UCI prepara também outras em relação à segurança na prova, como podes ver neste nosso artigo.

A visão do outro lado (de quem regulamenta)

Entrei em contacto com Isabel Fernandes, ex-comissária de ciclismo portuguesa, atualmente consultora da Federação Portuguesa de Ciclismo, no sentido de tentar perceber o que pode levar a UCI a querer tomar estas medidas.

Isabel Fernandes explicou que qualquer medida tomada pela UCI é sempre feita com base em situações que já aconteceram, e que eventualmente ( e sublinho eventualmente porque Isabel Fernandes não falou em nome da UCI) chegaram à conclusão de que este posicionamento do ciclista, o coloca a ele e aos outros em perigo (por situações visionadas em provas), na medida em que pode diminuir a sua capacidade de reação perante uma irregularidade na estrada ou obstáculo imprevisto.

Disse também que a UCI quando adota novos regulamentos é para todas as categorias, e nem todos os ciclistas (de cadetes a veteranos) têm a destreza e capacidade de fazer este tipo de posições na bicicleta, embora alguns possam tentar, colocando em risco tanto a eles como os outros. Esta pode ser outra das razões deste tipo de medidas.

Relembrou que, há muitos anos atrás quando a UCI implementou o capacete os ciclistas achavam absurdo, que chegaram a fazer greve em algumas provas, mas que hoje em dia está mais do que provado que foi uma opção correta.

A minha opinião

Por um lado é compreensível, mas por outro há tantas situações e gestos naturais em competição que podem colocar o ciclista em perigo, que se formos abordar o problema por aí daqui por uns tempos o ciclismo é pura capacidade física (são “robots” em cima das bicicletas), desaparecendo quase a capacidade técnica de cada ciclista.

Beber água, comer, vestir um abrigo, receber um abastecimento apeado ou da viatura da equipa, são gestos que os ciclistas profissionais fazem com naturalidade e nos quais tiram as mãos do guiador, fazem parte deste desporto e não há como os evitar. Porquê tentar mudar os outros?

O ciclismo de competição de estrada é praticado por profissionais experientes (nível profissional), é uma competição que envolve perigo, é praticado na rua e em estradas com irregularidades, num ambiente “não controlado” (ao contrário de uma pista, onde se sabe como está o piso, como estão as curvas, não surgem elementos exteriores inesperados, etc.), o perigo é inerente à competição em si.

Permitam-me ironizar um pouco sobre o assunto também. Alguém que avise Peter Sagan, Froome e companhia de que no futuro poderá ter que utilizar “camel bag” para beber água durante as etapas, pois é perigoso tirar a mão do guiador para beber ou comer em cima da bicicleta.

Por: Luís Beltrão

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