Tróia sem Sagres, em modo Gravel e autonomia.

Tróia sem Sagres, em modo Gravel e autonomia.

Gostas de viajar de bicicleta? O agora conhecido como “bikepacking”, seja de Gravel ou não, vai tendo cada vez mais interessados, convidamos-te a ver esta viagem de Gravel feita pelo Pedro Cravo e João Bronze.

Tróia – Odemira – Ermidas do Sado

O início

No passado dia 14 de Dezembro iria acontecer mais uma edição do Tróia-Sagres (TS). No ano anterior, e para evitar mais uma presença, desafiei o amigo João Bronze para uma pedalada invernal, partindo de Lisboa e seguindo para Montemor-o-Novo com retorno no dia seguinte. Foi um um fim de semana épico por estradões e paisagens terminando com quase 300 km’s. pedalados.

Este ano, a opção mais lógica seria ir para Sul tendo em conta a meteorologia, aproveitando o espírito do TS e o ferry excepcional das 6 da manhã, beneficiaríamos também da companhia de muitos ciclistas, acordar às 3.30 da manhã nem custa assim tanto.

Depois de já ter realizado várias edições do TS, de roda 26, roda 28, usar uma bicicleta gravel também seria uma novidade, e desta vez o amigo João Bronze também iria numa CANYON GRAIL!

É certo que a experiência de edições passadas já não cria aquela ansiedade e nervosismo que antecedem um grande empeno, mas foi muito agradável ver vários ciclistas que ainda fazem projecções e “desfiam” tácitas e conselhos.

Curiosamente no mesmo ferry iam além das nossas CANYON Grail, uma CUBE de ciclocrosse (CX) e mais duas gravel. A nossa “tácita” era seguir o percurso do Tróia-Sagres até Santiago do Cacém e depois seguir por trilhos e estradas pouco utilizadas até Odemira.

O percurso já tinha sido validado pelos amigos Inchas durante o Verão, tínhamos 3 pontos possíveis de dormida, Odemira, Monchique e Santa Clara a Velha, de qualquer destes locais poderíamos beneficiar do transporte da CP.

Primeira paragem e incursão no Gravel

A 1.ª paragem foi em Santiago do Cacém, com reforço alimentar, pois os 60 e poucos km’s. foram feitos numa média de 30 Km/h., nem parecia que vínhamos em autonomia e com pneus de 42 mm.

Assistir à passagem de muitos ciclistas e desejar-lhes boa viagem, dava-nos uma certa satisfação, pois finalmente iríamos encontrar o silêncio e o horizonte campestre pelo que ansiávamos.

Ao entrar nos estradões logo constatámos que as chuvas que caíram durante a semana tinham embebido o saibro, e criado dificuldades na progressão, a juntar a isso os rodados de algumas máquinas agrícolas também não facilitavam, a média caiu a pique para 20 km\h.

Tínhamos luzes mas com aquele ritmo e desgaste, não ia ser fácil, em certas zonas parecia que estávamos numa pista de CX belga a fatiar a areia, só nos faltava ter as pernas de um Van der Poel.

Mal cruzámos uma estrada alcatroada deixámos o track previsto e rolámos em direcção ao Cercal, onde fizemos mais um reforço alimentar, pois ainda era cedo para almoçar, partindo depois na direcção de Odemira.

No regresso ao track já nos aparecia um Alentejo com sobreiros, campos verdejantes e a presença do Rio Mira. Chegámos a Odemira pela inevitável subida que atravessa uma dobra da “serra” ansiosos pelo almoço, “Real food” sempre.

Depois desse almoço, tempo de decidir onde ir dormir, era demasiado cedo para ser em Odemira. Apesar da hora (15:00) tínhamos possibilidade de chegar a várias localidades, mas Santa Clara a Velha revelava-se a escolha ideal se no dia seguinte seguíssemos para Norte.

Tinha curiosidade de seguir um percurso desenhado unicamente pelos mapas, que seguia a linha de caminho de ferro do Algarve-Lisboa.

Sabíamos que saindo de Odemira, iríamos entrar num percurso pedestre (PR) que segue o Rio Mira, quase nunca abandonando o vale, e que PR! Talvez fosse da hora, com o Sol a acrescentar tons dourados nos sobreiros e alguns eucaliptos, dos cheiros, ou mesmo do almoço, as recordações serão duradouras, são estes momentos que procuro.

O percurso é praticamente plano e de um verdejante que parece impossível de acontecer num Alentejo tão massacrado pela seca. Chegámos a Santa Clara a Velha e ao Monte do Azinhal, poucos minutos faltavam para se dar o ocaso solar! Perfeito! O primeiro dia terminou com 163 km’s. percorridos sem qualquer percalço.

Lavagem das bicicletas, banho ao corpo, descanso e telefonema para o táxi, sim em Santa Clara não há restaurantes, pelo menos nesta altura do ano, só a 6 km’s., em Sabóia, onde os nutrientes foram de bom nível, a espera compensou!

Noite curta depois de um dia muito longo, e amanhecer solarengo a prometer um belo dia. As previsões davam chuva e chuva, talvez o Sul escapasse.

Primeiros km’s. pelo alcatrão ao encontro do track GPS, com alguma ansiedade pois não tinha sido validado e cada vez víamos mais cercas e portões.

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Começamos a ver a linha do comboio e no primeiro cruzamento deparamos com um túnel enorme de uns 5 ou mais metros de altura! O trilho que o servia daria para um 4×4 e parecia ter pouco uso e uns km’s. adiante, outro túnel, e mais outro. Grande obra de engenharia e parecia que não tinham grande utilidade.

Estradão de muito boa qualidade, sem muita lama ou areia, sempre cercado de azinheiras e sobreiros, nalguns pontos nem se via a luz do Sol, absolutamente verdejante!

Passagem por algumas casas de estrangeiros que provavelmente prescindem do abastecimento de energia eléctrica tradicional, o track GPS revelou-se perfeito.

Algumas zonas de estrada alcatroada, com rectas a perder de vista e sem carros, camiões, nada! Campos em pousio ou de pasto, gado e silêncio, mas a atmosfera estava a alterar-se e de Sul vinham nuvens pouco auspiciosas.

Estávamos quase nas Ermidas do Sado, onde poderíamos apanhar o comboio intercidades das 16:00 se o céu fosse inclemente. Entrámos na vila segundo a linha do comboio ao fim de 72 km’s., paragem na Pérola Ermidense e reposição de nutrientes perfeita.

Logo à saída do restaurante percebemos que seguir para Grândola (30 km’s.) ou para Tróia (73 km’s.) sempre por alcatrão iria resultar num banho memorável, pois já chovia copiosamente, o que associado à falta de visibilidade para os condutores dos outros veículos seria correr um risco desnecessário.

O comboio estava mesmo ali, bilhetes adquiridos, um deles com transporte de bicicleta, e vamos para a estação, não esperávamos haver tantos ciclistas a regressar a Tróia de bicicleta. Alguns colegas tiveram a mesma ideia quanto ao transporte e dirigiram-se para Ermidas do Sado e Grândola, vinham “ensopadinhos”. O revisor foi pessoa razoável e deixou que as bicicletas ficassem no espaço logo atrás da “locomotiva”.

Saída no Pinhal Novo, e novo comboio para Setúbal, onde tínhamos o carro para nos levar até Lisboa. Foi um fim de semana sempre em movimento, com novos caminhos, cheiros e sabores, muito verde, água e bons momentos de “pedalanço” e companheirismo.

João Bronze e Pedro Cravo

Não houve qualquer queda ou avaria mecânica, apesar de a transmissão ter chegado a romper a areia. Grandes CANYON GRail!

Até à próxima, Pedro Cravo e João Bronze.

Track do percurso no Strava:

Dia 1

Dia 2

Texto: Pedro Cravo

Fotografia: Pedro Cravo e João Bronze

Edição e arranjo: Luís Beltrão

Sobre o tipo de bicicleta utilizada, a Canyon Grail, podes aceder aqui ao nosso teste: Teste à Canyon Grail

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