Numa altura em que o Governo reforça as medidas de quarentena e é certa a sua renovação, o tabaco parece fazer parte da solução a bicicleta parte do problema.
No Decreto-Lei que entrou em vigor este Domingo, papelarias e tabacarias constam na lista de estabelecimentos a não fechar. Por outro lado, as lojas e oficinas de bicicletas não são abrangidas na lista de estabelecimentos relacionados com os meios de transportes:
15. Papelarias e tabacarias (jornais, tabaco);
25. Estabelecimentos de manutenção e reparação de veículos automóveis e motociclos, tratores e máquinas agrícolas, bem como venda de peças e acessórios e serviços de reboque;
Tabacarias na lista de espaços a não fechar?
É óbvia a razão pela qual as tabacarias se encontram na lista de estabelecimentos essenciais. Não pela venda de tabaco em si, mas pelo facto de muitos destes estabelecimentos hoje em dia estarem de facto a substituir o papel anteriormente atribuído aos tradicionais postos de correio.
As tabacarias e papelarias são hoje em dia pontos “payshop”, pontos de entrega de bens adquiridos em compras online e aglomeram vários outros serviços insubstituíveis nas suas áreas geográficas.
Relativamente ao consumo de tabaco propriamente dito, será certamente uma boa altura para mais uma vez, os fumadores reconsiderarem os riscos que correm.
Os governos terão infelizmente a oportunidade de mais tarde contabilizar quantas vidas (de fumadores) perdemos para esta doença, e se os recursos nessa altura perdidos poderiam ter sido aplicados de forma mais positiva.
Da nossa parte não nos cabe obviamente restringir a liberdade de quem opta por fumar, é uma decisão individual. De resto esta crise já vai trazer problemas suficientes à economia, vale (nesta altura) tentar manter TODOS os postos de emprego, até mesmo quando se dedicam à venda do tabaco.
Mas faz sentido não utilizar a bicicleta?
Em Portugal a bicicleta ainda é utilizada maioritariamente nas suas vertentes desportiva e de lazer. Na maior parte do nosso território, usar a bicicleta como meio de transporte diário continua a ser visto pela maioria dos cidadãos como algo reservado aos que não têm acesso a outros meios considerados mais dignos.
A excepção são as principais áreas urbanas que apenas muito recentemente começaram a importar os hábitos das maiores cidades europeias, onde a utilização não só da bicicleta como dos meios de transportes públicos (em quantidade e qualidade) é proporcionalmente muito superior aos automóveis.
Mesmo com esta diferença de cultura, achamos difícil explicar a omissão da utilização da bicicleta como meio de transporte nas medidas até agora apresentadas. Na nossa opinião, achamos que esta omissão é um erro estratégico e passamos a explicar porquê:
Numa visão mais simplista, e por ordem de prioridade, o essencial para conter ao máximo a velocidade de propagação deste vírus e a doença associada, proporcionando aos profissionais de saúde as condições para ultrapassarem este desafio são basicamente duas medidas:
Em primeiro lugar, para reduzir a propagação é essencial evitar ao máximo o contacto social, de forma a “achatar a curva” (Diminuir o numero de casos diário) e evitar a sobrecarga dos serviços de saude. Em segundo lugar, para que o SNS tenha a maior capacidade de resposta possível aos doentes de covid-19 é importante reduzir ao mínimo o trabalho desnecessário nos hospitais, como por exemplo quaisquer casos relacionados com acidentes (desnecessários) em actividades (desportivas ou de lazer) de risco.
De encontro a estes pontos achamos que faz toda a lógica utilização da bicicleta, que deve não ser “apenas permitida” nos termos actuais mas que deveria ser sim oficialmente recomendada como parte das medidas (de saúde Publica) de combate ao coronavírus, inserida numa lógica de utilização responsável, excluindo obviamente segmentos específicos de utilização que envolvem riscos acrescidos e cumprindo escrupulosamente as regras de afastamento e não agrupamento.
Para além dos benefícios do afastamento em todas as situações, é, de todo conveniente (nós achamos muito importante) para todos aqueles que vão ficar retidos em casa, manter alguma nível de actividade física, já ajuda a que aliviar as questões relacionadas com a ansiedade e stress e potencia o bem-estar e ajuda a melhorar o funcionamento do sistema imunitário. A bicicleta é uma das ferramentas ideais neste ponto.
O ponto de vista económico
O segundo ponto prioritário para o país é mitigar e reverter os efeitos da crise económica já em curso. Não tenhamos dúvidas aqui; nos próximos meses, ultrapassada a crise de saúde pública, vamos fazer contas ao custo da salvação do nosso país e tomar consciência do desafio brutal que será recuperar a nossa economia, nível de emprego, poder de compra e qualidade de vida que tínhamos até ao início deste ano.
É por esta razão que as restrições aplicadas pelo governo no sentido de garantir a nossa sobrevivência optam por minimizar o contacto interpessoal, mas afectando o mínimo possível a actividade económica.
Fazendo sentido que esta não é altura certa para deixar de vender tabaco, achamos que é sem dúvida a altura de rapidamente analisar, autorizar e por em prática medidas de encorajamento à utilização da bicicleta.
Aproveitando as vantagens imediatas em termos de saúde publica, o reforço da utilização da bicicleta teria o benefício imediato de manter em funcionamento (dentro das normas vigentes) centenas de pequenas empresas da especialidade e toda uma indústria que (contrariamente ao tabaco) só traz benefícios ao nosso país.
Mas esta não seria apenas uma medida de apoio na nossa opinião. O Mundo vai mudar. A competição por recursos vai intensificar-se e os países com a maior capacidade de adaptação vão chegar mais rápido ao bem estar proporcionado por uma economia forte e estável.
Seguindo esta lógica, achamos que seria muito vantajoso para Portugal aproveitar este desafio, numa altura em que todos fomos forçados a sair do nosso ponto de conforto e estamos naturalmente abertos a novidades e transformá-lo numa oportunidade para introduzir a cultura da utilização da bicicleta, que já potencia as economias os nossos vizinhos do norte da UE.
Quantas empresas poderiam nesta altura continuar a laborar se os seus colaboradores se pudessem tele-transportar de casa para o trabalho sem passar pelos transportes públicos (que nesta altura são um risco)? Esta é uma pergunta à qual o nosso governo se deveria colocar. A máquina de tele-transporte existe, chama-se bicicleta.
Em Lisboa, no metro e nos autocarros não se validam bilhetes. Fizeram-no para diminuir os pontos de contágio, mas usar um transporte publico parece-nos um contra-senso nesta altura.
“Não é a mais forte das espécies que sobrevive, ou a mais inteligente que sobrevive. É a espécie que melhor se adapta à mudança.” – Charles Darwin
O que têm feito as instituições em Portugal?
Do ponto de vista desportivo, Federação Portuguesa de Ciclismo (UVP-FPC) suspendeu todos os eventos oficiais e segue as indicações do governo sem qualquer tomada de posição institucional por agora. Temos de ter em conta que esta é uma entidade virada quase em exclusivo para a vertente desportiva e que por agora, no que toca ao sector dos atletas de alta competição existem medidas governamentais já anunciadas. Aconselhamos no entanto que sigam o site da Federação pois podem existir actualizações para atletas.
Do ponto de vista da utilização genérica da bicicleta (Recreio, lazer, aventura) a FPCUB (Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores da Bicicleta) seria a entidade que mais logicamente deveria estar a tomar posição e tornar públicos os pontos que acima enumeramos, mas estranhamente a FCPUB tomou posição aconselhando à não utilização da bicicleta através do seu site.
Como reage a Europa?
Em Itália, França e Espanha, as autoridades optaram por restringir a utilização da bicicleta com o argumento que qualquer acidente poderia potencialmente retirar recursos em unidades de Saúde.
Em Espanha, qualquer acidente com bicicleta neste momento é considerado um ato de negligência e estão previstas multas até 3000€.
Por Itália nas zonas em quarentena a bicicleta apenas pode ser utilizada para a recolha de bens alimentares ou medicamentos. Dada a situação verdadeiramente dramática actualmente nestas áreas, apenas podemos concordar neste caso.
Em França o uso recreativo da bicicleta está proibido mas pode ser usada para exercitar num raio de 2 km da sua residência.
Alemanha, Bélgica e Reino Unido por outro lado vêem vantagens claras na bicicleta como meio de transporte individual, que por natureza proporciona o desejado distanciamento social.
Na Alemanha, a bicicleta é tida como uma das soluções de transporte chave nesta crise e o Ministro da saúde Jens Spahn aconselhou os cidadãos a usarem a bicicleta como forma de deslocação, como medida de combate à pandemia.
No Reino Unido, a British Cycling (Federação Inglesa) bem como uma série de outras entidades da área do ciclismo e personalidades do ramo da medicina já pressionam o governo não bloquear a utilização da bicicleta. Podem encontrar um excelente artigo Inglês aqui:
Nos Países Baixos já fecharam todas as escolas, Cannabis Cafes, bordéis e Sex shops, mas as lojas de bicicletas e utilização das mesmas não sofrem restrições pelas mesmas razões óbvias.
Qual a sua opinião como Cidadão?
Até há poucas semanas, qualquer português saberia falar acerca das assimetrias entre países da União Europeia.
A diferença no nível de utilização da bicicleta é mais uma das diferenças marcantes que muitos dos nossos governantes e políticos saberiam aferir, já que em muitos casos fazem parte do grupo dos cidadãos mais bem informados e que mais viajam (portanto vêm por si) dentro da UE.
Mas para colhermos o bem estar que vem do norte da europa, temos também de assimilar esta parte da cultura. Esta é uma boa altura para começar, face à disrupção já iniciada nas nossas vidas.
Com o conhecimento das vantagens (contrariamente à utilização do tabaco) que uma crescente utilização da bicicleta pode trazer ao nosso país ao nível da saúde, economia, bem estar, transportes, redução da poluição e outros domínios, é na nossa opinião ilógica a omissão da utilização da bicicleta nas medidas até agora tomadas.
Temos consciência que alguns países estão a ver este fator apenas na ótica da redução de acidentes de viação com bicicletas, mas estarão a ter também em conta quantos contágios podiam ser evitados nos transportes em massa?
Na nossa ótica, esta é uma luta a longo prazo. Parece-nos que os benefícios são óbvios.
Esperamos que fiquem seguros e pedalem de forma responsável, seguindo as normas oficiais (que esperamos mudem para melhor). E claro, deixem-nos a vossa opinião!
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