Não mudes Tadej Pogacar

Não mudes Tadej Pogacar

Oiço meio mundo criticar a UAE Team Emirates pela forma como geriu a época de Tadej Pogacar, criticar o próprio Pogacar por querer vencer as clássicas da primavera e na mesma época vencer o Tour de France, mas quando paro para refletir comigo mesmo (apesar de atribuir um certo sentido ao que oiço meio mundo dizer), penso: caramba, mas eu gosto de ver Pogacar tal como ele é, a correr na primavera, a vencer e a dar espetáculo, assim como no Tour.

À esquerda Tadej Pogacar, à direita Jasper Philipsen, ambos com com 20 anos de idade na Volta ao Algarve.
Créditos da imagem: Topcycling.pt

Muitos amigos do meio do ciclismo e mesmo adeptos menos acérrimos me enviaram mensagens, ligaram-me para partilhar a sua opinião e ouvir a minha. Não fui capaz de dizer de uma forma convicta que sim, Pogacar deve refletir e mudar a forma como planeia a sua temporada.

Quis o destino que Tadej Pogacar vencesse um Tour de France com 21 anos de idade, antes mesmo de vencer uma clássica, mas imaginemos que antes de vencer o Tour, tinha vencido uma Flandres, tudo mudaria, até provavelmente a carreira do prodígio esloveno.

Pódio do Tour de France 2020 – Creditos imagem: A.S.O./Pauline Ballet

Se Pogacar vencesse antes uma Flandres ou uma Liége e depois um Tour, provavelmente seria um ciclista de clássicas a vencer uma grande volta e não um voltista a vencer clássicas.

Assim, muitos dos que hoje dizem que Pogacar tem que repensar a sua forma de correr, que tem que refletir, que necessita mudar a abordagem à temporada, provavelmente teriam um discurso diferente, talvez no sentido de aplaudir um ciclista de clássicas que conseguiu vencer dois Tour de France.

“Impressionante, muito faz ele!” … poderíamos ouvir, sem nunca ser colocada em causa a forma como ele e a equipa planeiam a temporada.

Relembro, Tadej Pogacar tem 24 anos e já venceu dois Tour’s, se refletirmos um pouco, existe a hipótese de nem ele, nem a própria equipa saberem quais os seus limites, ou que tipo de ciclista é ele realmente, ainda estão a descobrir ano após ano.

Tadej Pogacar no Tour 2021 – Creditos imagem: A.S.O./Charly Lopez

Porquê é Pogacar um voltista e não um ciclista de clássicas? Porque venceu o Tour de France duas vezes, antes do que venceu depois disso.

Rui Costa, nesta entrevista com Gonçalo Moreira em 2022, diz que não se sabe até onde pode ir Tadej Pogacar, da mesma forma que ele é brincalhão e sem uma ponta de stress, também é ambicioso e onde entra é para vencer.

Outros fenómenos

Por exemplo, Remco Evenepoel já venceu uma Vuelta a Espanha e hoje em dia muitos analistas e críticos de ciclismo ainda não têm a certeza se será um bom voltista, estes ciclistas ainda se estão a descobrir a si próprios.

Creditos imagem: Unipublic / Sprint Cycling Agency

Os anos vão passando, vamos assistindo ao desporto que é a nossa paixão, vão aparecendo talentos que apreciamos, mas no fundo antes de Pogacar, Vingegaard, Evenepoel, Van der Poel, van Aert ou Pidcock (pode escapar-me algum) o ciclismo era sempre a mesma coisa, as mesma táticas, estes ciclistas trouxeram uma lufada de ar fresco ao mundo do ciclismo porque são imprevisíveis, competem para vencer durante quase todo o ano, não têm medo de atacar, não têm medo de competir nas corridas que os apaixonam, são espontâneos na forma de correr e de planear as suas temporadas.

Queremos nós que isso mude? Eu não!

Creditos imagem: A.S.O./Pauline Ballet

Na minha opinião Mathieu van der Poel já podia ter duas vitórias na Paris-Roubaix (tem uma), se tivesse sido mais frio e inteligente nos últimos quilómetros da corrida em 2021 , não o foi, correu com o coração e no final pagou o preço, Sony Colbrelli e Florian Vermeersh souberam poupar mais energia e foram mais rápidos no sprint final, enquanto ele ficou no lugar mais baixo do pódio.

Mas se Mathieu van der Poel não fosse assim, eu não teria assistido à vitória mais impressionante que alguma vez assisti numa clássica, como aquela que foi a do holandês na Amstel Gold Race em 2019. Se ele fosse como os outros não teria corrido assim naquele dia, mas foi Mathieu van der Poel.

(Vi de novo o final, esta vitória de van der Poel na Amstel 2019 é digna de um “Nobel do ciclismo”).

No entanto, os dissabores trazem lições e Mathieu van der Poel já corre de forma diferente hoje em dia.

É legítimo que Tadej Pogacar queira tentar o record de vitórias do Tour de France e que só pense nisso, que sacrifique tudo o que gosta por isso (como correr as clássicas da primavera por exemplo), mas também é legítimo que não o faça e que continue a ser Tadej Pogacar, a correr e a dar espetáculo na primavera assim como no Tour de France, porque é isso que o torna único.

Para o jovem esloveno, Flandres é o dia mais divertido do ano, como disse nesta entrevista a Gonçalo Moreira: Entrevista com Tadej Pogacar.

Sou fã de ciclismo e de Tadej Pogacar (assim como de Vingegaard), eles que continuem a oferecer-nos o espetáculo que têm oferecido por mais uns quantos anos e, já agora, que Pogacar vença uma Flandres e um Tour de France no mesmo ano porque apesar de eu não perceber muito disto, acho-o possível.

O ciclismo é um desporto muito duro, tanto fisicamente como mentalmente, estes ciclistas treinam como “animais” para ter o desempenho que têm, se não treinarem com gosto e motivação para competir onde gostam, não vão durar muito.

Vitórias de Tadej Pogacar na temporada de 2023

  • Vuelta a Andalucia Ruta Ciclista Del Sol
  • Paris – Nice
  • Tour de Flandres
  • Amstel Gold Race
  • La Flèche Wallonne
  • Campeão Nacional de Contrarrelógio e de Fundo
  • Tour de France – Etapa 6

A temporada ainda não terminou, Tadej Pogacar vai ter mais oportunidades para vencer este ano, mas mesmo não vencendo, o que dizer da temporada deste jovem?

Além disso, o desporto não se trata só de vencer.

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