Se dúvidas existiam, João Almeida dissipou-as durante o Media Day da UAE-Emirates, que decorreu em La Nucía, localidade alicantina onde o Top Cycling esteve uma hora num mano a mano com o corredor de A dos Francos. No Giro de 2022 tinha pernas para fazer pódio, situação que a Covid-19 inviabilizou.
O foco já está na edição de 2023 da prova italiana onde o caldense foi 4º e 6º antes do abandono forçado. O atleta joga à defesa apontando ao top 3, mas a equipa acredita na vitória.

Para levar a maglia rosa a UAE limou arestas na configuração do bloco. Em 2022, só Rui Costa, Max Richeze e Davide Formolo coincidiram em uma corrida pré-Giro com o líder, algo que mudará.
“O bloco que vai ao Giro vai correr quase sempre comigo, por exemplo, o Jay Vine tem as mesmas corridas do que eu desde a Volta ao Algarve, depois faz Tirreno e Catalunha. É um grande ciclista e na alta montanha é importante sabermos comunicar. Com Covi e Ulissi também temos mais corridas. Claro que é importante, vamos-nos conhecer melhor dentro da corrida”,
conta João Almeida.

A UAE não vai mudar de filosofia
Joxean Matxin, responsável desportivo da equipa árabe, confirma que:
“a intenção não é ter só gregários nem se discute que o João Almeida é o líder. Sempre houve um respeito pelo líder e por muitos corredores que convertemos em gregários quando têm um palmarés invejável – Ulissi, Formolo, Covi fizeram um papel perfeito”.

A tática e a configuração da equipa foram questionadas durante o Giro, mas promoveram espetáculo na Vuelta. Matxin assume que quer a equipa mais em linha com a Vuelta, mas pede que “os ciclistas entendam os 360 graus do ciclismo que é ganhar 48 corridas e ser a melhor equipa do mundo. Isto implica que em certo momento do Giro certos corredores que me dão vitórias têm que estar para o João Almeida. É a parte da gestão: todas as corridas e todos os dias não vão agradar a toda a gente”.
Deixa ainda a promessa de que “ao Giro irá um bloco muito homogéneo, muito forte em montanha e também no plano”.
O caminho até ao Giro 2023
João Almeida começa a época correndo três dos cinco dias do Challenge de Maiorca para rodar, vai ao Algarve e à Catalunha tentar discutir a geral, faz Tirreno-Adriático e antes do Giro estagia em altitude em Serra Nevada.
É o vai ou racha no Giro de Itália?
“Diria que sim. Desde que não tenha azares e quedas faço o Giro, para o próximo ano viro a página e faço o Tour de France. É uma corrida um nível acima do Giro e da Vuelta; ao fazer o Tour posso ter que fazer o Dauphiné ou a Suíça, mudar um bocadinho o calendário para não ser sempre repetitivo”,
explica João Almeida.

Um percurso à Almeida
Há que reconhecer que o Giro tem um percurso à Almeida: bastante dureza, dois contrarrelógios, uma cronoescalada e sete finais em subida.
O percurso agrada ao corredor de A dos Francos:
“Os contrarrelógios vão fazer diferenças e sempre disseram que quanto mais dura a corrida melhor se adapta a mim, embora seja questão de capacidade física. Gosto do contrarrelógio, gosto de cronoescaladas – em juniores fiz algumas e gosto desses esforços individuais; a do Giro vai ser mista porque começamos com a bicicleta de crono e trocamos para a normal; será preciso treinar a troca de bicicleta para não perder muito tempo. O contrarrelógio clássico é mais decisivo já que a subida é só uma subida e em montanha é uma questão de capacidade física.”

Sai Campagnolo, entra Shimano
A UAE deixa a Campagnolo e em 2023 vai correr com grupo Shimano – transmissão, pedais e travessas. Entre as demais alterações contam-se as rodas Enve, os pneus Continental e até o guiador da bicicleta foi trocado, tal como o computador de bordo que passa a ser Wahoo. A sensação dos corredores é de que agora estão ao nível dos rivais.
No caso de João Almeida isto significa recuperar o contrarrelógio como arma e:
“chegar às subidas mais fresco e com um bocadinho mais de ar. Voltar a ter os mapas nas descidas ajuda, não ter isso foi uma grande diferença. O salto de material que demos vai levar as coisas ao sítio. No ano passado não consegui passar tanto tempo com a bicicleta de contrarrelógio, mas em termos de dados foram tão bons como antes. Por algum motivo não consegui ir tão rápido”.

As palavras de Íñigo San Millán
De 2022 pode concluir-se que João Almeida melhorou na alta montanha, mas no contrarrelógio perdeu fulgor. Será isto pela progressão nos esforços mais longos a subir?
Íñigo San Millán é o treinador de João Almeida [também de Tadej Pogacar e Juan Ayuso]. Para o chefe de performance da UAE “fisiologicamente e metabolicamente os sistemas energéticos subindo uma montanha são iguais aos de fazer um contrarrelógio. Utilizas muito as fibras tipo dois, é um esforço muito glucolítico onde se produz muito lactato e há que oxidá-lo a energia outra vez. É um esforço praticamente idêntico. O João tem suficiente peso para poder fazer um crono razoável sem perder tanto tempo para um corredor grande – por exemplo, Filippo Ganna – e ter peso para a montanha”.
Concluímos que subir melhor não implica piorar no contrarrelógio.
“É uma especialidade que trabalhamos sempre; se temos uma corrida por etapas onde há contrarrelógio há que preparar esse dia com a bicicleta de contrarrelógio fazendo um percurso/tempo semelhante ao que vai fazer”,
acrescenta San Millán.
Por agora não está previsto nenhum reconhecimento ao percurso pela UAE, ao contrário da Quick-Step que mandou Remco Evenepoel à região de Campania – por onde o Giro vai andar entre a 4ª e a 6ª etapa – conhecer este terreno tecnicamente difícil e ainda a Cesena, local do segundo contrarrelógio (9ª etapa).
Por: Gonçalo Moreira
Créditos imagens: SprintCyclingAgency
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