Daniela Campos tem 22 anos e acabou com uma seca que durava há 31! A vitória UCI na Guatemala, a aventura em El Salvador e o encanto da Colômbia neste Diário.
Foram duas semanas com muitos eventos. Tudo começou em Anadia, na Prova Internacional de Pista. Fiz dois dias de competição com a seleção e numa segunda-feira voei para El Salvador.
Comecei a competir logo no dia seguinte com a Eneicat. Fiz dois Grandes Prémios, a Volta a El Salvador e no último dia ainda fiz um contrarrelógio de 25 km.
É um país bastante diferente do nosso, uma realidade bastante diferente da Europa. Há que reconhecer o esforço que o governo e a organização fizeram para a realização da prova.
Há três ou quatro anos era um país muito perigoso, com muita criminalidade. Com o novo presidente houve essa mudança e o país está mais seguro. Há muitas coisas que precisam de ser mudadas, mas acredito que com o tempo vá acontecer.

Créditos: Challenge Ciclista Mallorca Femenina
Desligar a ficha quando acabava a corrida
Em relação às corridas, ficámos alojadas numa residência universitária dentro de um recinto universitário. Havia uma empresa de catering que tratava dos almoços e dos jantares. Eram comidas muito condimentadas, o que me fez ficar mal da barriga a meio da Volta.
Para as provas íamos em autocarros. Cada equipa tinha uma pick-up para staff e bicicletas. As atletas iam de autocarro, com escolta policial, porque para atravessar a cidade era um pesadelo por causa do trânsito. Transferes de duas horas, às vezes, para ir e para voltar.
Na corrida era chegar, vestir a correr porque os polícias estavam à espera para começar à hora. Não havia tempo para aquecer ou arrefecer nos rolos. Tínhamos que desligar a ficha quando acabava a corrida.
Havia equipas WorldTour, Continentais e todas com o mesmo objetivo que era ganhar. Fez-se a corrida da mesma maneira que na Europa, só mudou a parte da organização, do aquecer, do arrefecer, da preparação para o dia seguinte.

Créditos: Daniela Campos
Estava morta
Não tínhamos muito tempo de descanso, acordávamos bastante cedo, mas foi uma experiência muito boa. Os dois primeiros foram difíceis por causa do jet lag… estava morta.
Entre os Grande Prémios e a Volta a El Salvador houve um dia de descanso pelo que deu para começar a Volta com um 7º lugar no prólogo.
No dia seguinte passei a líder da juventude, mas houve uma etapa que como equipa não corremos tão bem e perdemos essa classificação. Subimos na geral, que era o objetivo, foi para isso que fomos para lá já que havia muitos pontos UCI em disputa.
Finalizámos bem com a Andrea Alzate em 6ª na geral. No último dia de corrida, após o contrarrelógio, viajamos para a Guatemala.

Volta à Guatemala foi muito dura
Fomos de autocarro e na fronteira cruzamos a pé. À nossa espera do outro lado estava a organização da outra corrida. Todo esse processo demora bastante e chegámos bastante tarde ao hotel.
No início da Volta à Guatemala já tinha 10/11 dias de corrida seguidos, estava exausta. Foi muito dura pelo cansaço com as viagens, as corridas, pelas corridas antes dessa e acabei esse bloco com grande rodagem.
Na Guatemala foi tudo semelhante a El Salvador. A única diferença é que é um país que está um pouco mais à frente, tem um bocado mais de tudo digamos.
Na corrida não me senti nada bem e na primeira etapa tentei recuperar o máximo possível para tentar lançar a nossa sprinter – Valentina Basilico – que acabou por ganhar.
Logo aí deu-nos vantagem na geral e nos outros dias foi controlar. Ganhámos a geral, a montanha, a juventude e finalizamos com uma vitória na última etapa.
Dei tudo o que tinha para dar
Foi super porque fizemos um trabalho espetacular em equipa. Tínhamos a liderança e tínhamos que controlar a corrida toda já que só quatro segundos de diferença.
Sabíamos que nos iam atacar, mas conseguimos controlar. Sentiu-se também o desgaste das outras atletas e tentamos jogar com isso.
Eu tinha que trabalhar para a equipa, fizemos um bom trabalho de controlo na frente e a responder a ataques. No final, como a sprinter tinha a camisola amarela, eu tinha que a lançar. Atacou uma atleta a 300/400 metros e eu fui buscá-la, mas as sensações foram boas e continuei. Dei tudo o que tinha para dar, acabei por vencer a etapa e foi bastante bom. Finalizamos super!
Agora estou na Colômbia a descansar e a começar a treinar os objetivos do mês de maio que vai ser preenchido.
Vim para Rionegro, Medellin. A equipa tem base na Colômbia, um patrocinador grande que é de cá. Uma vez que estávamos a correr na Europa Central decidiram que fazíamos cá o estágio em altitude.
Temos alojamento e todas as condições. É um país maravilhoso, com vias para os ciclistas, estou encantada com a Colômbia e poderei voltar certamente.

Créditos: Unipublic/Charly López
Chegar na melhor forma possível à Vuelta
Vou ficar três semanas, depois regresso a Espanha para fazer a Volta a Espanha. O objetivo é chegar na melhor forma possível à Vuelta.
Tenho feito quase sempre dois treinos por dia. De manhã faço três horas e à tarde uma hora suave para descontrair da carga da manhã.
Para onde quer que vá vou sempre para cima. Estou a fazer trabalho de subida e chego aos 2600 metros, depois fico nos 2500 metros para continuar a trabalhar. O clima é muito húmido porque estamos nas montanhas. Da parte da manhã costuma estar o céu fechado, mas tem estado bom tempo porque há uma vaga de calor.
Uma curiosidade é que aqui cortam a água em determinados horários. Temos certas horas para tomar banho e fazer as nossas coisas.
Estamos numa zona mais fora da cidade. Os vizinhos do lado têm cabras que nos acordam todos os dias. Estamos sossegadas e tranquilas, é um sítio fantástico para se estar.