Como Tata Martins chegou à Fenix-Deceuninck

Como Tata Martins chegou à Fenix-Deceuninck

Diz o ditado que quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. Tata Martins não planeou chegar ao WorldTour em janeiro, depois de ficar sem projeto quando a Le Col-Wahoo perdeu 400 mil euros pela falha de um patrocinador.

Numa entrevista que lhe fiz em novembro, a ribatejana dizia nem sequer ter pressa, embora fosse um objetivo a médio prazo.

Só tenho pena de não estar no WorldTour pelo salário mínimo. Prezo muito ter um bocadinho menos de salário e ter uma estrutura top. Conheço atletas que saíram de juniores diretas para o WorldTour, colegas que tinham resultados superiores aos meus; na altura pensava ‘fogo, quem me dera’. Hoje sei que tomei a decisão certa em dar estes passinhos e ir sempre para cima”,

disse ao magazine Super Ciclismo durante um estágio de pré-época em Tenerife.

Philip Roodhooft, proprietário de um império empresarial que investe forte no ciclismo de estrada, mountain bike e ciclocrosse – através de várias equipas – viu a oportunidade de recrutar uma sprinter forte e com vocação para as clássicas do Norte, a essência das equipas que criou.

Uma estrutura única no ciclismo atual

Enquanto estrutura, na órbita do universo Roodhooft há vários planetas: no WorldTour tem equipa masculina e feminina, às quais soma em 2023 formações Continentais criadas para apoiar os planteis principais em momentos específicos da época e permitir rodar atletas de perfil jovem; além da estrada também tem presença forte no ciclocrosse masculino e feminino. Este é um caso único no ciclismo já que todas as formações estão sob alçada da mesma entidade.

Tanto os homens como as mulheres subiram em 2023 ao WorldTour. No caso da Fenix-Deceuninck, tornou-se a 15ª e última equipa de uma divisão finalmente completa após ter sido criada em 2016. Perante as exigências do calendário, Philip Roodhooft viu a oportunidade de fazer um bom negócio e ativou o plano Tata Martins. O staff da equipa neerlandesa foi ao Instagram contactar a atleta. Negócio fechado.

A primeira portuguesa a correr no WorldTour 

Quis o destino que no dia em que pioneira olímpica portuguesa foi anunciada como reforço da Fenix-Deceuninck estava o Topcycling a cobrir o Media Day da Alpecin-Deceuninck em Pedreguer, Alicante. Foi uma feliz coincidência estar a ver o treino de Mathieu van der Poel e conhecer a notícia.

Philip Roodhooft, o CEO da equipa Alpecin-Deceuninck

Estar no sítio certo e na hora exata permitiu-nos conversar com o CEO da estrutura e contar-lhe que Tata Martins é a primeira portuguesa a correr no WorldTour. Ficou surpreendido! Conversa puxa conversa e Philip Roodhooft contou que a tinha no radar há algum tempo e que acredita que a nativa da Moçarria pode crescer à altura do potencial que já mostrou agora que está integrada numa estrutura completa a todos os níveis.

Philip Roodhooft

O que mais surpreendeu Philip Roodhooft foram os bons resultados da atleta num 2022 onde teve que lidar com Covid, lesões e após um período exaustivo de qualificação olímpica onde fez quase tudo sozinha.

Recordemos só alguns dados sobre a temporada passada:

4ª no GP d’Isbergues ganho por Chiara Consonni, 3ª no GP Fourmies batida por Clara Copponi, 5ª na Brugge-De Panne onde venceu a campeã mundial Elisa Balsamo e 6ª no Europeu onde se impôs Lorena Wiebes, a melhor sprinter do mundo. Ao fechar top cinco em De Panne converteu-se na primeira portuguesa a fechar top cinco numa prova WorldTour!

Da Sopela à Le Col-Wahoo e daí à Fenix-Deceuninck. Tata Martins veio de uma espécie de terceira divisão, saltou à segunda e finalmente chega ao topo da pirâmide. Vai correr com as melhores e chega numa fase madura da carreira. Tem tudo para ser feliz.

Por: Gonçalo Moreira

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