O Gran Camiño foi duro, mas deixou imagens fantásticas, que nos fazem refletir sobre o clima extremo e os efeitos que tem no ciclismo.
Há uns 10 anos estava eu numa apresentação da Katusha e perguntei ao Tiago Machado se tinha feito um bom inverno, se tinha podido treinar bem dado que tinha chovido imenso no Minho.
Levei logo uma Machadada. “Eu não sou ciclista de verão.”
Vem esta memória a propósito do mau tempo que castigou os ciclistas durante O Gran Camiño. A 3ª edição foi afetada pelo rigor do inverno, tal como tinha acontecido na 2ª edição.
Vingegaard parecia galego desde pequenino
Fevereiro e na Galiza não é de esperar outra coisa. Em quatro dias apanharam ventos fortes que levaram à neutralização do contrarrelógio, temperaturas máximas de 3-4 graus Celsius na 2ª e 3ª etapas.
Finalizaram com um temporal que não só encurtou a etapa rainha como impediu a transmissão televisiva.
Para o organizador foi um desastre. Um ano de preparação e duas etapas severamente afetadas. A equipa do Ezequiel Mosquera não merecia tanto azar.
Os fotógrafos presentes – Kike Abelleira e Sprint Cycling Agency – ajudam a fazer o relato visual de uma das provas mais duras do ano. Um épico à moda do Norte!
Jonas Vingegaard parecia galego desde pequenino…
Como se tem alterado o clima
A abundância de água no Norte contrasta com a seca que a Espanha arrasta desde há três anos, especialmente no Sul e na Catalunha. Os últimos invernos estão entre os mais secos desde que há 60 anos se começaram a reunir estes dados.
O curioso é que através do ciclismo podemos comprovar como se tem alterado o clima e refletir sobre que efeitos isso terá a médio prazo na modalidade.
No passado Giro a 13ª etapa evitou o Grand St. Bernard e perdeu a Cima Coppi da corrida. Em 2019 o Tour de France foi abruptamente decidido por uma torrente de terra no Col d’Iseran.
Vida de ciclista nunca foi fácil
Nem as grandes Voltas escapam ao tempo extremo que obriga atletas, equipas e organizadores a invocar o protocolo que vela pela segurança da caravana com cada vez maior frequência.
E quando não é o frio ou a chuva aparece o calor excessivo. O protocolo – criado em 2015 e atualizado para 2024 – prevê alterações da hora de partida e neutralização de partes do percurso.
Os organizadores ficam responsáveis por fornecer bebidas e gelo picado, aumentar o número de motas com abastecimento líquido e escolher zonas com sombra para as partidas.
A vida de ciclista nunca foi fácil, aliás, no ADN dos praticantes e dos espetadores está a atração pelo extremo. Que o digam ao TopCycling que teve no Luís Beltrão um herói no chuvoso Gran Fondo da Figueira da Foz (o vídeo é recomendável).
O Gran Camiño veio-nos recordar a fragilidade do ciclismo e do planeta.