O projecto da Bora-Hansgrohe com esta denominação iniciou em 2017, uma estrutura que vinha da Bora Argon 18, e anteriormente a NetApp (projecto que começou em 2010) e do qual fizeram parte os portugueses José Mendes (entre 2013 e 2017) e Tiago Machado (em 2014).

2017 – O início da era Sagan
Em 2017 a Bora-Hansgrohe contrata a super estrela do pelotão Peter Sagan, que chegava da extinta Tinkoff e com ele trazia mais 8 ciclistas dessa equipa.

Com excepção de Rafal Majka, Leopold König e poucos mais, na sua maioria a equipa tinha perfil para clássicas e vencer etapas ao sprint, foi o que fez no ano de estreia.
Em 2017 entre Peter Sagan e Sam Bennett a equipa obtém 22 vitórias, com as 4 de Rafal Majka, que passava pela sua melhor forma, e mais umas quantas de outros fecham a temporada com 33 vitórias no primeiro ano do projecto.

Em 2018 o alemão Pascal Ackermann também começa a ajudar à festa, juntamente com Sam Bennet e Peter Sagan, a equipa volta a conseguir um total de 33 vitórias nesse ano (sendo uma delas Paris-Roubaix de Peter Sagan).

2019 – Ano de ouro e mudança de paradigma
2019 foi, até ao momento da vitória no Giro do passado domingo, o ano de ouro da equipa e talvez também o início da transformação desta Bora-Hansgrohe, que até então conseguia a maioria das vitórias através dos sprints de Sam Bennett, Pascal Ackermann e Peter Sagan.
Em 2019 a evolução de alguns ciclistas com perfil para a alta montanha começa a dar frutos, Emanuel Buchmann começa a dar vitórias à equipa em etapas de montanha, e o recém contratado na altura Maximilian Schachmann também (arrasam na Volta a Catalunha e País Basco desse ano), juntamente com Davide Formolo que também se estreia a vencer na equipa.

Os homens com perfil de montanha rendem 10 vitórias à equipa, mas não se trata só das vitórias.
A equipa consegue colocar pela primeira vez um ciclista nos lugares cimeiros da classificação geral de uma grande volta, Emanuel Buchmann termina o Tour de France no 4.º posto desse ano.

Peter Sagan consegue a camisola dos pontos no Tour e Pascal Ackermann a mesma camisola no Giro de Itália.
Além disto, 2019 termina ainda com pódios na Volta ao País Basco, no Dauphiné e na Liége-Bastogne-Liége, com um total de 47 vitórias nesse ano.
Dessas 47 vitórias, Peter Sagan só levantou os braços na linha de meta por 4 vezes, salvando o ano com a camisola verde conseguida no Tour. Apesar do Tri-Campeão do Mundo passar pelo pódio no Tour de France, a era “pós-Sagan” já estava a começar.

2020 – Fim da era Sagan
Em 2020 mesmo com a escassez de corridas em virtude da pandemia COVID-19, a Bora – Hansgrohe consegue 21 vitórias, mas confirma-se o decréscimo de rendimento de Peter Sagan (que dá uma etapa no Giro de Itália à equipa em toda a temporada).

Em 2020 apesar de ser um sprinter o homem com mais vitórias na equipa, a este já se juntavam Schachmann, Buchmann e o escalador recém chegado à equipa, Lennard Kämna.
A fábrica de talentos alemães não só obtinha vitórias com eles, como começava a ter um bloco cada vez mais forte para a classificação geral em grandes voltas.

A equipa já podia ter um bloco base para apostar numa classificação geral de uma grande, em 2021 reforçam-se com Wilco Kelderman que vinha de fazer pódio no Giro de Itália em 2020, mas ainda havia Sagan na equipa.
Quem tem Sagan tem que o levar ao Tour, e se tem que o levar ao tour tem que levar ciclistas que o ajudem. Sagan não termina o Tour e mesmo não tendo um bloco forte na montanha, Wilco Kelderman consegue mais um TOP 10 na sua carreira (tem 4) pela BORA-Hansgrohe nesse mesmo Tour de 2021.

2022 – A nova Bora-Hansgrohe
Em 2022 é inevitável a saída de Peter Sagan, a escassez de resultados, a mudança de paradigma da equipa e o salário milionário do eslovaco levam-no para uma nova fase da sua carreira na Total Direct Energies.

A equipa voltou a reforçar-se para a alta montanha, depois em 2021 contratar o homem que fez terceiro na geral do Giro 2020, no início desta temporada contratou o que fez segundo nesse mesmo ano, Jai Hindley.

Na primeira grande volta deste ano, o primeiro sem Peter Sagan desde o início do projecto em 2017, a Bora-Hansgrohe leva para o Giro de Itália a seguinte equipa:
- Wilco Kelderman
- Giovanni Aleotti
- Cesare Benedetti
- Emanuel Buchmann
- Patrick Gamper
- Jai Hindley
- Lennard Kamna
- Ben Zwiehoff

Aqui não está claramente uma equipa que vai à procura de etapas, está uma equipa que vai lutar pela classificação geral, e não é uma equipa qualquer.
É uma equipa que tem dois homens com pódio no Giro (Hindley e Kelderman), tem um que já fez 4.º no Tour (Buchmann), Lennard Kamna com vitória em etapa de montanha no Tour 2020 e Cesare Benedetti com vitória em etapa de montanha no Giro 2019.
Em todo o bloco só Patrick Gamper é sprinter, a Bora-Hansgrohe transformou-se.
Em alta competição não se vence por acaso
Para que se tenha a noção de como não é fácil vencer uma grande volta (a não ser que se tenha Tadej Pogacar), além dos resultados fantásticos que mencionei antes, analisemos a experiência destes ciclistas em grandes voltas:
Wilco Kelderman (13 grandes voltas nas pernas), Cesare Benedetti (11 grandes voltas nas pernas), Emanuel Buchmann (11 grandes voltas nas pernas), Patrick Gamper (3 grandes voltas nas pernas), Jai Hindley (5 grandes voltas nas pernas), Lennard Kamna(4 grandes voltas nas pernas), Ben Zwiehoff (2 grandes voltas nas pernas), Giovanni Aleotti (2 grandes voltas nas pernas).

Aqui está patente não só a evolução e transformação da equipa que estava construída em redor de Peter Sagan no início, mas também a forma como se vai desenvolvendo e consolidando um projecto até chegar à vitória numa grande volta, que neste caso foi o Giro de Itália.
Jai Hindley não venceu por acaso, venceu porque foi o mais forte nos momentos decisivos, esteve à altura quando teve que estar (se não estivesse poderia ser dada a liderança Wilco Kelderman), e porque além disso está num projecto com vários anos de desenvolvimento.

Seja no desporto ou noutras áreas os projectos necessitam de tempo até alcançar o sucesso desejado, em alta competição ainda mais.
Por: Luís Beltrão
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